É recorrente algum visitante ou outro perguntar quanto cobrar em um projeto de arquitetura bem como projetos relacionados (elétrico, hidráulico etc…).
Entenda de antemão, que não é objetivo deste artigo lhe dizer o quanto você deve cobrar em um determinado projeto, mas passar dicas para que você tenha condições de formar um preço justo, pelo qual possa ter saúde financeira e não correr o risco de se transformar seu trabalho em escravidão, isto é importante de considerar principalmente para quem está começando.
Neste artigo, darei foco para o desenhista/designer e outros freelancer que atuam de forma autônoma, que por não ter regulamentação é um profissional que não tem amparo de órgãos que regulam. Logo perceba, que este artigo se extende a outras áreas profissionais
Certamente os profissionais que mais tem dificuldades em formar seu preço são o desenhista ou designer freelancer.
No caso do projetista (freelancer), ou mesmo aquele que faz um curso de desenho arquitetônico, o período é muito curto, quase sempre sem estágio e poucas chances de contato prévio com o mercado. Daí a dificuldade em estabelecer preços, muitas vezes não tem ideia de quanto cobrar em um projeto. Para quem se encaixa neste grupo (de desenhistas/projetistas), a primeira coisa é entender como os projetos são cobrados.
Cada região do país pode ter suas particularidades, mas basicamente a remuneração é feita de três formas:
Um outro fator que deve ser considerado em todos casos, é o que deverá ser feito. Alguns projetistas pegam um rascunho de uma planta baixa com informações básicas e desenvolve todo o projeto, elaborando coberturas, fachadas, bem como os projetos complementares elétrico e hidráulico/sanitário. Outros casos acabam pegando o projeto quase todo mastigado apenas para lançar no AutoCAD (ou copiar no papel vegetal como se fazia antigamente), este é conhecido como copista, e por questões obvias tem uma remuneração menor por projetos se comparado ao projetista pleno, até porque seu trabalho finaliza mais rapidamente.
O primeiro passo é fazer uma pesquisa de mercado e entender como são cobrados na sua região, se por metro quadrado de área construída, por prancha, por empreitada, por hora trabalhada, enfim, descubra como funciona na sua região. Existem particularidades de cada localidade, há cidades onde o custo de vida é bem maior logo o setor de serviços é mais oneroso, outros locais onde a concorrencia é pequena tende a ter melhores condições para quem presta o serviço, enfim, o negócio é pesquisar a sua região.
Para levantar esta informação, você vai precisar começar a mostrar sua capacidade de se relacionar, consulte outros profissionais, tanto os contratantes (engenheiros e arquitetos), como contratados (outros desenhistas e projetistas). Se você não conhece ninguém que possa consultar, é bom se virar e passar a conhecer, pois nenhum profissional sobrevive sozinho no mercado.
Uma outra forma de levantar este tipo de informação, é em birôs de plotagem, normalmente possuem informações ou indicações a fornecer neste sentido.
Um outro meio de formar seu preço, é estimar por hora trabalhada, também chamada hora técnica. Dizer ao seu cliente que cobra valor X por hora é algo complicado dependendo da forma que o trabalho será executado, como alternativa estima-se quantas horas vai gastar para fazer determinado projeto e dá um orçamento único para cada trabalho.
Ao formar o preço da hora trabalhada, você pode tomar como base o salário de um projetista empregado, sem esquecer claro que há adicionais como explicarei a seguir.
Antes de qualquer coisa, esteja ciente que estamos trabalhando com valores hipotéticos, cabe a você pesquisar o mercado local onde atua para saber, por exemplo, o salário de um cadista que exercerá a sua mesma função.
A titulo de exemplo, vamos considerar que na sua cidade um desenhista/cadista (sem gradução) com vinculo empregatício tem um salário mensal de R$1.800,00 com uma jornada de 40 horas semanais, se dividir o valor por um total de 160 horas mensais vai chegar a um valor próximo de R$11,25 a hora.
Mas muita atenção, R$11,25 não deve ser a sua hora de trabalho, você na condição de autônomo nunca deve igualar o seu preço ao de um trabalhador assalariado.
Ao contrário de você ele tem benefícios como férias remuneradas e 13° salário. O projetista com vinculo de empregado também tem outras vantagens como FGTS (incluindo multa rescisória de 40% em caso de demissão sem justa causa), tem amparo da previdência social e não deixa de ser remunerado pelo dia ou mesmo meses ausente no trabalho por motivo de doença, tem também remuneração por horas extras.
Até aqui, falamos apenas de direitos no que diz respeito a legislação trabalhista, sem considerar que há muitas empresas que concedem outras vantagens como ajuda de custo para combustível, plano de saúde, vale alimentação e por ai vai…
Um projetista na condição de empregado, não tem que se preocupar com gastos como a aquisição e manutenção de equipamento de trabalho (computadores, softwares etc..), não tem necessidade de gasto com divulgação para aumentar ou conquistar uma carteira de clientes.
Custos como aquisição, manutenção e a depreciação de equipamento, gastos com tinta e material de escritório, energia elétrica, aluguel de escritório dentre outros que não cabem ao empregado mas acabam pesando para o profissional autônomo.
Agora entende porque a sua hora não pode ser o hipotético R$11,25? Então você se pergunta como vai lançar todos estes gastos e chegar ao seu preço… Pra isto criei uma pequena ferramenta que funciona “on-line” a qual vai te ajudar a calcular o preço da sua hora de trabalho para seus projetos arquitetônicos e civis.
Calcule o valor da sua hora de trabalho clicando aqui »
Há pessoas que defendem a tese que um profissional para ser bem valorizado deve cobrar caro, pois quem está pagando vai dar valor ao trabalho. No entanto esta afirmação é perigosa de seguir, um profissional é valorizado por muitos outros fatores e não apenas preço que ele cobra, o “ganhar bem” é na verdade uma consequencia destes outros fatores, dentre estas “coisas” posso citar a seriedade, rapidez e respeito no prazo de entrega, qualidade do trabalho, experiencia e tempo de atuação no mercado (o que atrai confiança do cliente) e por ai vai… Portanto, antes de cair na armadilha do preço alto, pense se você tem diferenciais para isto, pois hoje em dia ninguém é bobo a ponto de simplesmente pagar caro porque acha que quem cobra caro é porque é bom.
Por outro lado, cobrar muito barato também é outra armadilha, o preço muito abaixo do mercado pode acabar causando desconfiança de alguns clientes, sem contar que projetistas que gostam de cobrar baratinho são os mais desmotivados com a profissão e mais tendem a se tornar insatisfeitos e passar a fazer mal feito. Um outro problema de jogar o preço lá embaixo é o tipo de cliente que você vai atrair, que normalmente é o cliente que quer apenas pagar pouco, depois você terá grandes dificuldades de elevar seu preço a um patamar mais aceitável, já que se aumentar a tendencia do cliente pode ser a de procurar aquilo que lhe atrai em outro local, preço baixo.
Então, para quem está começando, o ideal é tentar se manter no nível do mercado, você até pode abrir alguma exceção e fazer um projeto um pouco mais barato, desde que seu cliente esteja consciente que aquele não é o valor correto e ele está na verdade ganhando um desconto naquele projeto especificamente, que a partir dos próximos o valor é restabelecido. Com o passar do tempo você pode até conseguir dar uma engordada no valor dos seus projetos, esta é uma capacidade que será adquirida com a experiencia.
Independente de ter ou não amparo de entidades, um profissional autônomo deve ser responsável consigo mesmo e saber gerenciar suas finanças.
Separar gastos pessoais de gastos com o trabalho é uma das coisas a serem levadas em conta. Faça uma planilha de gastos mensal e acompanhe.
Outra dica é procurar ter reservas financeiras para imprevistos, esta reserva pode ser criada gradativamente. Por exemplo, seu computador pode ser roubado ou simplesmente estragar, você pode precisar de uma impressora nova inesperadamente, seu celular pode cair na privada, pode precisar se ausentar do trabalho por algum tempo por motivos pessoais, enfim, você sabe bem que imprevisto é imprevisto.
Há economistas que orientam que autônomos devem ter reservas para se manter por pelo menos seis meses sem trabalhar (busque uma literatura sobre finanças pessoais). Não deixe de levar isto em consideração quando estiver formando seu preço.
Embora tenha passado informações para quem trabalha com projetos de arquitetura e engenharia, obviamente você verá informações com valor prático para qualquer profissional autônomo.
Então é isto, caso tenha algum comentário ou se acha que pode colaborar com alguma informação, fique a vontade para comentar.
Crédito Imagem: sxc.hu/photo/784493
Gostei muito da dica
Eu pedi a um desenhista um projeto de um novo desenho sobre um novo desporto que desenvolvi o New Ball Race e existe no meu projeto dois tipos de campo um com 80/60 e outro 60/40, eu queria planta baixa só o desenho s/a parte hidráulica ou de corrimento de fluidos( Chuva), me cobrou 1500,00, achei caro, fui procurar outro achei 2500,00, mais como desenho é caro!
Show! Fantásticos as orientações, gratidão
Muito boas dicas, coerente e de bom senso. Obrigado
Sou Projetista de Ar Condicionado aposentado e quero continuar trabalhando por conta própria, por este motivo estou recorrendo ajuda.
Pontos diretos de esclarecimentos! Parabéns,obrigado.
Sds,
Muito boa a matéria sobre o assunto.
Parabéns aos mediadores, eu já tinha lido o artigo anteriormente no período da minha graduação, mas somente agora eu pude por em prática todos os pontos abordados aqui, e com certeza é de muita importância, eu particularmente estou pretendendo fazer divulgação nas plotadoras e prefeituras. É isso! o post me ajudou muito, principalmente na ajuda em levantamentos de gastos e mais, grande abraço.
Avaliação: 5.0 - 8 votos